Sendo sincero, eu amo ser jornalista. A comunicação é uma área quase infinita, mas é preciso testar o máximo de caminhos e dar nome ao que gostar
No último ano do ensino médio, eu escolhi o jornalismo porque gostava da ideia de trabalhar falando sobre qualquer assunto — sempre gostei de saber um pouco de tudo. Com duas semanas de FACOM, confirmei que havia feito a escolha certa, mas o responsável não era o jornalismo. Me apaixonei mesmo foi pela comunicação.
A gente entra na graduação pensando em ser repórter de política, esporte ou cultura, em ser correspondente, escrever tão bem quanto Eliane Brum, em dar aquele furo que fará o Brasil tremer, ministros caírem e CEOs passarem por merecidos inquéritos.
E sim, nós aprendemos as técnicas e ferramentas importantes para chegarmos lá. Mas de repente você está meio distraído indo comprar um energético e ouve algumas pessoas falarem sobre marketing e SEO, e depois outras mencionarem assessoria e gestão de crise, umas ainda conversam sobre programação e UX, e você pensa “eu ainda tô na faculdade de jornalismo?”.
A notícia boa é que sim! O jornalismo e a comunicação são universos imensos, então explore tudo o que você puder. Busque instâncias, bolsas de pesquisa, editais, estágios, pegue disciplinas fora da FACOM, conheça gente na fila do RU, descubra e aproveite absolutamente tudo o que a universidade pode te oferecer.
Não tenha receio de colocar suas impressões em primeiro lugar. Eu sei que a gente sente medo de atrasar os semestres, medo de mudar de ideia, de sair do roteiro, de decepcionar alguém. Mas, para ser sincero, deixar esse medo de lado foi a melhor coisa que fiz na faculdade. Exigiu muita coragem chegar à conclusão de que não, o jornalismo de redação não era o meu caminho certo.
Sendo sincero, eu amo ser jornalista. Amo a curiosidade, o senso crítico, a vontade de fazer a diferença, tudo aquilo que é indispensável à profissão. Acho incrível esse vício que existe pela reportagem, pela apuração. Mas logo no meu primeiro estágio, como repórter no jornal A Tarde, descobri que eu não aguentaria uma vida toda trabalhando assim, com plantões, crises de ansiedade, sem perspectiva de crescimento. E fiquei culpado por me sentir desse jeito. “Eu sou preguiçoso por não querer passar 40 anos fazendo plantão dois fins de semana por mês? Por não gostar de correr todo dia para entregar uma matéria no impresso? Sou um mau profissional? Coloquei o curso errado no SISU?”.
Testei também fora do factual. No meio da pandemia, eu e uma amiga submetemos uma pauta ao prêmio Jovem Jornalista do Instituto Vladimir Herzog. Fomos selecionados e recebemos uma bolsa para fazer um podcast sobre direitos humanos e agronegócio no oeste baiano. Foi uma experiência fantástica de jornalismo investigativo, de pesquisa de documentos, entrevista com autoridades, captação de material in loco. Eu simplesmente amei. Mas mesmo assim, não vi futuro ali.
Nas aulas em que aprendia sobre lide, noticiabilidade, estilo, formato e outras coisas, tinha sempre um aspecto que me intrigava.Quem é que vê os jornais enquanto empresas? Quem pensa em modelo de negócio, em taxa de cliques, em escalabilidade, em tempo de permanência no site, em estratégias de gestão? Felizmente a FACOM me ensinou sobre isso também, principalmente na disciplina de Jornalismo Digital e em outras ministradas pela Profa. Lívia Vieira.
Então, faltando um semestre para me formar, com toda a coragem do mundo, eu decidi que ficaria mais um ano e meio na faculdade para poder experimentar outras áreas da comunicação. Essa é outra dica que gostaria que tivessem me dado: faça muitos estágios, explore o máximo de segmentos que puder ainda na faculdade. Quando você estiver no mercado de trabalho, infelizmente esses testes vão ser bem mais difíceis.
E foi assim que o bicho da gestão da comunicação e da inovação me mordeu pra valer. Estagiei no Parque Tecnológico da Bahia, cuidando das redes sociais, da assessoria, da gestão de comunidade e dos indicadores e metas, tendo contato direto com governos, startups, institutos de inovação e muito mais. Quando terminei a faculdade, segui trabalhando como analista.
Atualmente estou na comunicação da Prefeitura de São Paulo, atuando como Jornalista de Crise na pasta de Inovação e Tecnologia. Isso definitivamente não estava no meu bingo profissional quando entrei na UFBA lá em 2018. Mas olha só, eu amo trabalhar com comunicação política e corporativa.
O que quero dizer com tudo isso é: permita-se mudar de ideia, mas para isso é preciso se jogar nas oportunidades. A comunicação é uma área quase infinita, porém não se sinta culpado caso não se apaixone por ela. A curiosidade e o saber se adaptar serão sempre suas melhores ferramentas no mercado de trabalho. Não normalize uma rotina que você odeia. Quando não entender algo, pergunte novamente até acabarem suas dúvidas. Tenha a mente aberta para o que a vida te oferecer. Teste o máximo possível! E aproveite cada segundo, passa rápido demais.
*Leonardo Lima é jornalista com atuação em São Paulo-SP. Já colaborou para o jornal A Tarde na editoria de Economia. Atuou como Analista de Comunicação no Parque Tecnológico da Bahia, trabalhando com branding, eventos e gestão de resultados. Hoje é Jornalista de Crise na Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia de São Paulo (SMIT), onde atua com estratégias de posicionamento, relacionamento com a imprensa e comunicação integrada. Foi da turma 2018.1 de Jornalismo na FACOM | UFBA e passou pela disciplina Oficina de Jornalismo Digital como aluno no semestre 2021.1, sob a condução da Profa. Lívia Vieira. Pesquisou sobre o conceito jornalista-celebridade no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), também orientado pela Profa. Lívia Vieira. É vencedor da 13ª edição do Prêmio Jovem Jornalista do Instituto Vladimir Herzog, com reportagem em podcast sobre agronegócio e direitos humanos.
