Amigo UFBA promove integração entre alunos brasileiros e intercambistas

Projeto recém-lançado é bem avaliado pelos estudantes internacionais, que, no entanto, também apontam problemas estruturais na universidade

 

Eduardo Sanches (@du.sanches) e João Moura (@_joaomarcus)

 

Imagem destacada: Bady Sales e Bernát Hegyeshalmi, integrantes do Amigo UFBA, em frente à Biblioteca Central. (Foto: João Moura)

 

Como resposta a um crescente fluxo de intercambistas ingressantes na Universidade Federal da Bahia, a Superintendência de Relações Internacionais (SRI | UFBA) lançou, no início do semestre 2025.2, o projeto Amigo UFBA, que busca promover um ambiente mais acolhedor para estudantes internacionais dentro da instituição. A ideia é que cada aluno voluntário forneça orientações ao seu colega internacional, que vão de conselhos sobre a rotina estudantil na UFBA à adaptação ao campus e ao idioma. Mesmo com uma proposta consistente, os intercambistas têm mencionado uma série de obstáculos em relação à inserção acadêmica e à resolução de procedimentos burocráticos.

 

De acordo com o edital criado pela Superintendência, a iniciativa representa um dos quatro eixos que estruturam o Programa de Acolhimento ao Estudante Internacional, acompanhada da Reunião de Boas-Vindas ao Estudante Internacional, do Guia do Estudante Estrangeiro e do Guia de Multiculturalismo e Interculturalidade.

 

Na prática, o Amigo UFBA funciona a partir de um pareamento entre intercambistas e discentes brasileiros, aprovados por meio de processo seletivo, para que uma recepção mais próxima e humana seja realizada. Cada “amigo UFBA” deve ajudar sua dupla em questões como acesso a disciplinas, localização dentro dos campi e participação em atividades culturais, com um retorno de até 60 horas complementares ao final do processo.

 

Hoje, o projeto abarca 92 duplas de universitários, da graduação ao doutorado, e tem como principal objetivo construir uma internacionalização baseada em ações solidárias e respeito à diversidade.

 

“Mais do que um mecanismo de integração institucional, o Amigo UFBA valoriza o encontro entre culturas como espaço de aprendizado mútuo e de construção coletiva de conhecimento”, afirma Maíra Vilas Boas, coordenadora do projeto.

 

 

O surgimento do projeto

 

A premissa dialoga com experiências de intercâmbio cultural já consolidadas em outras universidades do país, como o Programa iFriends (USP), o PAI (UFC) e o Programa Amigo Internacional da PUC-Minas. Segundo a SRI, essas iniciativas são vistas como referências, mas o Amigo UFBA se propõe a ir além da operacionalização, buscando provocar uma transformação multicultural mais ativa e profunda no ambiente universitário.

 

“Desde a concepção, a intenção foi tornar a comunidade mais inclusiva, empática e preparada para a convivência entre culturas. O plano também envolve docentes, técnicos e gestores, pois todos têm papel fundamental no acolhimento”, destaca Vilas Boas.

 

Além de viabilizar um suporte direto, a proposta atua no combate à xenofobia, ao racismo e a outras formas de discriminação, reconhecendo que a adaptação envolve não apenas aspectos práticos e burocráticos, mas também socioemocionais.

 

“A internacionalização não se resume à mobilidade acadêmica. Ela implica formar sujeitos comprometidos com a convivência intercultural e com o bem-estar e a saúde mental de estudantes internacionais”, acrescenta a coordenadora.

 

O que os participantes têm a dizer

 

Entre os intercambistas que integram a edição inédita do projeto, está Vivien Götze, alemã, aluna de graduação em Economia e Ciências Sociais. Ela conta que soube do Amigo UFBA por uma professora do Programa de Proficiência em Língua Estrangeira para Estudantes e Servidores da UFBA (PROFICI) e descreve a experiência de forma muito positiva, mas com ressalvas.

 

“O Amigo UFBA tem me ajudado bastante. Eu mantenho contato com meus colegas de curso e com outras pessoas que estão envolvidas no projeto. A maior dificuldade tem sido entender a estrutura e a organização da Universidade. Nós tivemos muitos problemas com a matrícula e as plataformas digitais, além de não termos nenhum acesso à meia passagem do ônibus. Acredito que a SRI poderia ter ajudado mais nesse sentido”, explica Götze.

 

Vivien Götze, intercambista alemã, na Praça das Artes. (Foto: João Moura)

Assim como Vivien, outros alunos internacionais elogiam a recepção calorosa, mas relatam diversos entraves no processo de documentação e admissão institucional do semestre 2025.2, especialmente no que diz respeito à comunicação interna e ao acesso a sistemas digitais integrados à rotina acadêmica, como o SIGAA. Bernát Hegyeshalmi, húngaro, graduando em Geografia, comenta:

 

“Estou aprendendo muito. Gosto das matérias que peguei e fiz muitas amizades. Me senti muito bem recebido, e até mais depois das primeiras duas semanas. Mas, para além da língua e de todas as gírias locais, a gente teve muita dificuldade com a comunicação da UFBA até agora. Não sabíamos quando teríamos acesso ao SIGAA e ao MOODLE ou quando as aulas iriam começar, de fato. Demoravam muito para responder aos nossos e-mails, ou sequer respondiam. Sinceramente, essa parte foi ruim”.

 

Segundo esclarecimento prestado pela coordenadora Maíra Vilas Boas, os problemas técnicos referentes ao processo de admissão institucional via SIGAA – novo sistema incorporado à grade curricular da UFBA recentemente – impactaram toda a universidade e estavam fora do controle da SRI.

 

Outro desafio exposto pelos estudantes visitantes está relacionado às condições de permanência na universidade e às oportunidades de integração fora da sala de aula. É o caso de Glory Temitope Ademiju, aluna nigeriana do curso de graduação em Letras, que avalia o acolhimento como agradável, mas acredita que a instituição de ensino poderia fortalecer ainda mais a inclusão cultural.

 

“Minha experiência tem sido incrível. Fui recebida de braços abertos pela minha ‘amiga UFBA’, com muito amor e carinho. No entanto, falta apoio financeiro por parte da universidade, para que possamos planejar mais passeios em conjunto, como ir ao cinema, ao zoológico e participar de outras atividades de inclusão”, diz Ademiju.

 

Do outro lado, o Amigo UFBA tem apresentado um impacto direto no desenvolvimento pessoal e acadêmico dos discentes brasileiros envolvidos até o momento. Para muitos deles, fazer parte do projeto significa ter acesso a outras realidades, fortalecer a empatia, criar novos laços e fomentar trocas culturais mais sensíveis. Bady Sales, voluntária e graduanda do curso de Letras em Inglês, compactua com tudo isso.

 

“Iniciativas como essa formam uma rede de apoio ativa não só para a comunidade internacional, mas também entre os alunos brasileiros. O Amigo UFBA proporciona um espaço de aprendizado mútuo. Somos incentivados a aprender sobre e conviver com culturas e costumes diversos. Os estudantes internacionais têm muito a dizer, e nós precisamos ouvi-los”, pontua Sales.

 

Maíra Vilas Boas reforça que o Amigo UFBA está em fase piloto e que ainda deve passar por melhorias. De acordo com a coordenadora, o plano inicial era realizar o primeiro encontro de formação dos voluntários no final do semestre 2025.2 e executar o pareamento das duplas antes da chegada de uma nova leva de intercambistas ao Brasil. Assim, os participantes poderiam aproveitar o período de férias para atividades de socialização. As mudanças devem ser implementadas nas próximas edições do projeto.

 

Eduardo Sanches – Estudante de Jornalismo na FACOM | UFBA e estagiário de comunicação na Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB)

 

João Moura – Estudante de Jornalismo na FACOM | UFBA, estagiário de comunicação no SENAI CIMATEC e monitor no Laboratório de Fotografia (LABFOTO | UFBA)

 

Como voluntários do Amigo UFBA, entendemos que o impacto do projeto deve ser visto por mais pessoas. A pauta parte de uma necessidade de divulgação de inciativas que trazem multiculturalidade para a universidade, e levam para o mundo o que é produzido aqui dentro.

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