Instituições têm investido em infraestruturas para melhorar o aprendizado de crianças e adolescentes, mas ainda está aquém da necessidade
Erika Azevedo (@erika.azevedo_)
No Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgado em 2020, data do último censo realizado sobre o uso da tecnologia na educação, a maior conectividade e estrutura tecnológica na educação infantil no Brasil pertenciam às escolas privadas. Ao longo desses quatro anos, a situação não mudou. A maioria das instituições públicas continua com déficit na estrutura e suporte ao aluno.
Alessandra Santana, 20 anos, é mãe de Bryan, de 3 anos, que frequenta uma creche municipal pertencente à cidade de Lauro de Freitas, e revelou que a instituição não possui nenhuma ferramenta tecnológica para auxiliar na aprendizagem das crianças, como também, não possui estrutura adequada para receber equipamentos tecnológicos.
A mãe afirma que gostaria que a creche utilizasse tecnologia de maneira efetiva: “Eu acho que deveria incluir a tecnologia, porque hoje em dia tudo é tecnologia. A gente tem mais informações, meios e aplicativos que possibilitam o acesso à internet. Hoje em dia, malmente você vê alguém pesquisando algo em livro, se informando ou perguntando a alguém”, demanda Alessandra.
As escolas do Ensino Fundamental I e II, apesar de serem o maior número no Brasil, possuem a menor conectividade, segundo o Censo do Inep. Ainda assim, há benefícios e malefícios em relação ao uso da internet por parte de professores e alunos.
Como comenta Nilma Brito, 39, coordenadora pedagógica nas redes particulares e públicas do Ensino Fundamental I no interior do estado, o uso de aparelhos tecnológicos nas salas de aula ajuda, mas também atrapalha: “É preciso saber dosar o seu uso e fazê-lo de forma correta. Os pontos positivos são a possibilidade de realizar pesquisas diversas, o estímulo à ludicidade, à espontaneidade, a possibilidade de uma aula mais dinâmica, entre outros”. Dentre os pontos negativos, ela elenca a distração na hora da aula, a fuga do tema proposto, as redes sociais, os conteúdos pornográficos.
Outro aspecto que a coordenadora destaca é como as redes sociais atrapalham no aprendizado das crianças: “Crianças e adolescentes têm passado boa parte do seu dia em redes sociais acessando conteúdos bobos que não ajudam a pensar, levando-os a uma extrema preguiça intelectual. Eles já não querem mais pensar para responder nada, querem achar tudo pronto”, afirma Nilma.
Já para Misael Oliveira, 39 anos, professor de Matemática há 12 anos do Ensino Fundamental II da rede pública municipal e estadual, também há prós e contras e é preciso saber como usar: “Nas escolas onde leciono, têm poucos recursos tecnológicos disponíveis. Na rede estadual tem mais e ainda insuficientes, enquanto na rede municipal não há recursos tecnológicos suficientes à disposição”. Ainda assim, ele diz, educadores e estudantes utilizam os poucos aparelhos existentes.
Para o professor, é necessário que haja suporte e implementação de políticas públicas para o uso eficiente e eficaz no processo de ensino-aprendizagem desses recursos em sala de aula, pois o mau uso (apenas jogos e redes sociais durante as aulas) pode prejudicar a concentração e afetar o aprendizado do estudante.
Inovação e controvérsias
Diferentemente da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, é no Ensino Médio que os estudantes têm mais acesso às tecnologias nas escolas, tanto na rede privada como na pública. O Governo da Bahia, em 2023, entregou mais de 78 mil tablets nas escolas do ensino médio, buscando ampliar as condições de uso. A Secretaria da Educação do Estado, em outubro do ano passado, homologou a resolução da Iniciação Científica na Educação Básica e Superior da Bahia, construída em conjunto com a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), sob a coordenação do Conselho Estadual da Educação (CEE), para implementar e dar mais visibilidade à ciência e à inovação, buscando equipar as unidades escolares com tecnologia para fortalecer a inclusão digital e promover uma educação pública mais moderna e acessível.
O Colégio Estadual Democrático Bertholdo Cirilo dos Reis (em Plataforma) foi um dos que recebeu os tablets do governo estadual. Para a estudante do 3º ano do Ensino Médio, Lana Borges, 17 anos, se trata de medida importante porque auxilia na melhoria do aprendizado. Porém, na sua opinião, o que falta é a compreensão dos alunos para não utilizar essas ferramentas em momentos inapropriados. Ela considera que este investimento precisa chegar em todos os colégios e reivindica que os recursos tecnológicos devem estar mais incorporados, pois podem ajudar melhor no aprendizado do que métodos tradicionais que não estão agradando.
Recentemente, no dia 13 de janeiro de 2025, o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) sancionou uma lei que proíbe o uso de celulares nas escolas particulares e públicas. A medida, que tem 30 dias para ser regulamentada via decreto, já entrou em vigor neste ano letivo e tem gerado controvérsias.
A professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Faced), Salete Cordeiro, analisa o contexto:
Para a coordenadora pedagógica Nilma Barros, a lei é essencial. “Por outro lado, penso que pode deixar os alunos com crise de abstinência em alguns casos, mas é algo bom para tentar minimizar os efeitos causados pelo celular em sala de aula. Acredito que não será bem aceita pelos alunos”, prevê.
Apesar da medida ser importante para garantir concentração nas salas de aula por parte dos alunos, por outro lado, irá prejudicar aqueles estudantes que não têm acesso a itens básicos e dependem do celular para realizar as atividades pedagógicas em sala de aula. A estudante Lana Borges, por exemplo, é contra a lei: “Não acho que vai ajudar em algo como prometem, porque há vários colégios, como o que eu estudo, que não têm livros didáticos para serem utilizados em sala de aula. Então, sempre pesquisamos, no celular, os assuntos na sala. Além disso, alguns professores utilizam o celular para passar atividades”, comenta.
Inclusão e exclusão digital
Apesar das medidas que buscam proporcionar uma educação mais inclusiva no meio digital, ainda há muitos desafios. E um desses é a formação de professores para se adaptarem ao meio digital e incluírem ferramentas tecnológicas nas aulas. O professor e pesquisador Nelson Preto, professor e pesquisador da FACED | UFBA e coordenador do Grupo de Pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias fala mais sobre o assunto:
Na Faculdade de Educação da UFBA já existiu, por exemplo, o projeto Tabuleiro Digital, iniciado em 2004 e reconhecido nacionalmente, que teve como objetivo proporcionar o acesso à internet através dos computadores instalados no prédio da Faced para promover a inclusão sociodigital na Bahia. O projeto, atualmente, continua apenas na cidade de Irecê. Em janeiro, o Grupo de Pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias, liderado pelo professor Nelson Pretto, realizou evento no qual houve homenagem ao projeto, que deve ser retomado em 2025.
Em meio à exclusão digital de pessoas mais pobres, que não dispõem dos meios para ter acesso à internet, a retomada de projetos como o Tabuleiro Digital podem proporcionar a inclusão digital da comunidade acadêmica, assim como também para além da universidade.
No interior da Bahia, o coordenador de educação escolar quilombola na secretaria de educação (SEC BA) Francisco Nascimento, proporciona a inclusão digital na educação das comunidades indígenas e quilombolas do sul do estado.
Apesar dos desafios, professores e órgãos governamentais têm trabalhado para proporcionar uma maior inclusão digital de pessoas mais pobres para terem acesso a uma educação de qualidade.
Erika Azevedo é estudante do 6º semestre de Jornalismo. Atualmente é estagiária do Portal Farol da Bahia, monitora do LabAV UFBA, repórter da revista laboratorial de moda Demodé e modelo comercial.
A discente estuda sobre educação e acredita que é base para melhorar a situação social e financeira do Brasil. Além disso, possui afinidade com os estudos sobre tecnologia associada à educação e, por isso, escolheu o tema da reportagem.