O que aprendi em sete anos de jornalismo é que não aprendi quase nada

* Carolina Cerqueira

 

Quando a professora Lívia me convidou para fazer esta coluna e contar sobre a minha experiência na faculdade e no mercado de trabalho, rememorei toda a minha vivência jornalística desde 2018. Lembrei da minha indignação ao receber uma nota 5 num perfil que fiz no primeiro semestre. Dos trágicos vídeos que entreguei como produtos das disciplinas de telejornalismo e comunicação audiovisual. Dos textos que publiquei como estagiária no Jornal Correio e odiei depois porque achava que não estavam perfeitos (ainda acontece de vez em quando, como com este texto que escrevo agora).

 

O primeiro aprendizado foi que a minha praia era, realmente, a escrita. O segundo, que um texto nunca acaba, mas uma hora você precisa aceitá-lo e jogá-lo ao mundo.

 

Lembro de tentar seguir um padrão, buscar uma fórmula secreta. Lembro de todas as inseguranças até começar a me deleitar com o processo de escrita, a ansiar pela hora de chegar à redação e começar a escrever a história que tinha acabado de escutar ou presenciar porque sabia que seria prazeroso ver a materialização das minhas ideias em ebulição.

 

O terceiro aprendizado é que tudo leva tempo. Uma hora algumas coisas vão sair no automático, você vai demorar menos para pensar um bom lide, o restante do texto vai fluir naturalmente e até um estilo próprio vai surgir.

 

Foi ótimo ver minhas matérias impressas nas páginas do Correio e do Estadão. Depois foi ótimo ver uma matéria em vídeo na TV Estadão, inúmeras matérias no site da CNN Brasil. Até que passei também a colocar meu rosto e minha voz (aqui meus tempos na Bahia FM me ajudaram muito) em vídeos para o Instagram e o TikTok do Correio.

 

Eu publico no impresso, no site, nas redes. Tenho que entender um pouco de diagramação, jornalismo digital e multimídia, modinhas e trends da internet. São múltiplos formatos, mas, em todos eles, a minha missão é cativar o meu público. Eu quero a página mais bonita de impresso, eu quero o título e a foto mais instigantes do site, eu quero os vídeos mais chamativos das redes.

 

O quarto aprendizado é que dá para contar a mesma história em todos os formatos, mas cada uma vai encaixar melhor de um jeito. A minha escolha diária é apostar em vários caminhos, mas sempre fazendo adaptações. Um dos pecados mais graves constantes na bíblia do jornalismo (na minha cabeça existe e acho que deveria existir na de todo jornalista) é copiar o mesmo conteúdo em diferentes plataformas.

 

Aí veio o meu quinto aprendizado: na minha praia também estão as mídias sociais (aprendi que esse é o nome ‘correto’ usado no universo acadêmico para se referir ao Instagram, por exemplo, e que redes sociais são redes de conexões que podem ser feitas em qualquer espaço — um salve para Manuel Castells e André Lemos e seus ensinamentos sobre ciberespaço).

 

Fiz meu TCC sobre as consequências das discussões sobre Big Brother Brasil no X (finado Twitter) para o próprio programa. Emendei um mestrado para investigar as consequências dessas mesmas discussões para a cobertura jornalística. A dissertação não está publicada ainda, mas posso adiantar um spoiler: o X tem um poderoso papel enquanto gerador de pautas e repositório de conteúdos para jornalistas que, inclusive, usam e abusam dos embeds (recurso de incorporação de publicações no X às matérias) para alcançar a multimidialidade.

 

Vamos ver o que virá no doutorado. Mas, antes de finalizar esta coluna, aproveito o gancho do mestrado para compartilhar o sexto aprendizado: assim como um texto, nós nunca estamos prontos. Há sempre o que ser aprimorado, há sempre um aprendizado te esperando por aí. O que aprendi em sete anos de jornalismo é que não aprendi quase nada diante do que tantos outros anos me reservam. Não espere viver todos eles para se jogar ao mundo.

 

 

* Carolina Cerqueira é jornalista com atuação em Salvador-BA. Já colaborou para Bahia FM, GFM, G1, Alô Alô Bahia, Estadão, CNN Brasil e Jornal Correio (para o qual continua colaborando atualmente). É mestranda em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA e é pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL) desde 2023. Foi da turma de 2018.1 de Jornalismo na FACOM | UFBA e passou pela disciplina Oficina de Jornalismo Digital como aluna no semestre 2021.2, sob a condução da Profa. Lívia Vieira, e como tirocinista em 2024.1, sob a condução das professoras Lívia Vieira e Suzana Barbosa. É vencedora do Prêmio Abapa de Jornalismo na categoria “Jovens Talentos – Texto” de 2019, do Prêmio Laboratório de Jornalismo Digital do Nexo Jornal em 2021, do Prêmio Sebrae de Jornalismo Bahia na categoria “Texto” em 2024 e do Prêmio de Comunicação FJLES na categoria “Texto” em 2024.

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