Corrida de rua cresce em Salvador

Dos 56 finais de semana entre janeiro de 2024 e janeiro de 2025, 54 tiveram corridas divulgadas na capital, segundo grupo “Salvador que Corre”

 

Beatriz Castellucio (@beatrizcastellucio) e Rebeca Mascarenhas (@rebecamascarennhas)

 

Correr na orla, no bairro, na rua ou nas praças da cidade não é uma prática recente. Muito pelo contrário, a modalidade, praticada em diversos lugares do mundo, não exige alto investimento financeiro do atleta, apenas um par de tênis, roupa confortável e disposição. Diferentemente desse simples “correr na rua”, você já deve ter ouvido falar das competições de corrida: eventos organizados com regras, quilometragem mínima definida, que varia a depender da competição, e indica o grau de dificuldade da prova, taxa de inscrição, camisa e um grande aparato que dá suporte ao corredor. A primeira corrida de rua oficial no Brasil, que perdura até hoje, nasceu em 1925, na cidade de São Paulo. A “Corrida Internacional de São Silvestre” foi trazida para o Brasil pelo jornalista Cásper Líbero, que, conhecendo a modalidade na França, decidiu reproduzir a ideia e lançar a versão brasileira. A São Silvestre é aberta ao público e mais de 30 mil pessoas participam todo ano da competição. 

 

Apesar de não ser um evento novo e já acontecer em diversos lugares do país, as competições de corrida parecem ter tomado uma grande repercussão, com cada vez mais adeptos, depois da pandemia de Covid-19. Para Alan Nunes, criador do Salvador que Corre – grupo aberto no Instagram e WhatsApp, que não só organiza treinos desde 2017, mas também propõe informar e divulgar corridas na cidade – o mercado de corridas de rua na capital vive uma efervescência desde 2020. “Depois que entramos na pandemia e as academias fecharam, a única alternativa para praticar atividade física era a corrida de rua. Lembro que o prefeito Bruno Reis, para dar start à retomada do calendário de eventos na capital, criou a “Ultramaratona da Independência”, que aconteceu em 02 de julho de 2021. Foi o pontapé inicial para que as atividades voltassem. A partir daí, vem esse crescimento”. 

 

Além de ser acessível por acontecer ao ar livre, na rua, e não exigir pesos ou equipamentos, como outros esportes, um dos motivos que podem influenciar no aumento do número de corredores é o fato da prática permitir que pessoas de diferentes idades, atraídas pela modalidade, possam se preparar e competir. “[A corrida] virou modinha, que bom que virou modinha! Hoje têm globais correndo, artistas correndo, todo mundo corre… cada vez mais. A gente está nesse processo de ascendência. Eu acho que ainda não chegamos no ponto alto, estamos ainda em processo de crescimento”, declara Nunes. É possível observar também essa tendência nas plataformas de inscrições, que segundo Douglas Cerqueira, diretor da Maratona Salvador, maior corrida de rua da cidade, recebem cada vez mais a participação dos baianos. “Plataformas como a Ticket Sports, principal em inscrições da América Latina, registraram um crescimento de 45% na participação de eventos de corrida só neste ano. Além disso, 35% dos atletas inscritos são novos na prática”, afirmou em entrevista para o portal Correio Regional

 

Entre janeiro de 2024 e janeiro de 2025, 54 corridas em Salvador foram divulgadas pelo Salvador que Corre. Isso equivale a aproximadamente 95% dos finais de semana com corridas de rua na cidade. Entre os bairros mais comuns estão Boca do Rio (dez corridas) e  Piatã (oito corridas). Confira detalhamento no gráfico a seguir elaborado por essa reportagem.

 

A influência das redes sociais 

Outro fator que se mostra fundamental na divulgação e no alcance social das corridas de rua são as redes sociais. Não raramente, navegando pelo Instagram, TikTok ou X, por exemplo, é comum se deparar com fotos, vídeos curtos e registros dos amigos e familiares acordando cedo para competir, com publicações contendo fotos profissionais – outro serviço oferecido pelas organizações de corrida, além de memes sobre a modalidade, como a expressão  “corrida de rua é o novo Tinder”, ou seja, uma nova forma de paquerar

 

Ana Leal, 23, estudante de psicologia, conta por que  decidiu começar a correr e como o ambiente digital teve participação nesta decisão. “Sempre quis começar a correr por ser algo muito presente entre amigos e familiares, mas acabava sendo um objetivo que ficava em segundo plano. Com o crescimento do movimento da corrida de rua este ano e a visibilidade que as redes sociais trouxeram, observar pessoas iniciando me motivou a começar também”. 

 

A estudante de terapia ocupacional, de 23 anos, Victória Goés, afirma que as redes sociais foram fundamentais para se sentir parte da comunidade de corrida. “Comecei a praticar o esporte de forma totalmente amadora, não sabia o que comer para ter mais energia, por exemplo. Mas pelo Instagram, eu comecei a aprender os costumes: melhores shorts, quais tênis são ideais, como fazer exercício de fortalecimento, vocabulários como pace (em tradução livre, “ritmo”, que significa em quantos minutos alguém faz um quilômetro) e muito mais”.

 

No Instagram, as hashtags de corrida utilizadas pelos usuários para fazerem postagens das fotos e registros das competições indicam a dimensão do público de corrida. As tags, como também são chamadas, “#corridaderua”, que abrange todo o país, possui mais de 8,6 milhões de fotos ou vídeos vinculados. Quando o filtro é “#corridaderuasalvador” o número é de mais de cinco mil postagens. Influenciadores da modalidade também são inúmeros que compartilham no seu perfil o estilo de vida, divulgando produtos de vestuário próprios para o esporte, marcas de estimulantes pré-treinos, competições específicas e assessorias de corrida. Este é o caso de Vera Saporito (@saporitoverapersonaltrainer_), que se descreve na rede como “treinadora de corrida da @runplacebrasil”, plataforma online de treinos personalizados para quem deseja correr.

 

 

Ana Leal na corrida “Energy Night Run”. Foto: Arquivo pessoal/Ana Leal.

 

Vitória Goés e Rebeca Mascarenhas na corrida “Circuito das Estações – Primavera”. Foto: Arquivo pessoal/Rebeca Mascarenhas.

 

 

O mercado das corridas de rua 

Com mais adeptos, as corridas de rua deixaram de ter um direcionamento apenas para o esporte.  Passaram a ser também um meio que empresas de diversos ramos decidem investir e realizar suas próprias corridas, como forma de promoção das respectivas marcas. As competições de corrida viraram oportunidades de promoção destas marcas, que oferecem aos inscritos uma série de atividades complementares, como shows, degustação de produtos, espaços para tirar fotos, estandes e muito mais. As competições também são uma forma das empresas divulgarem suas marcas. A pesquisa feita por esta reportagem constatou que diversas empresas de vestuário de corrida criaram competições próprias, como é o caso da Live e da Track & Field, ambas lojas de roupa fitness. Outras eventos de corrida também foram concebidos por marcas especialmente criadas para promover as competições, como é o caso da “Energy Night Run” e da “Corrida das Estações”. Além da questão empresarial, as corridas de rua também viraram uma forma de um determinado grupo celebrar e festejar alguma profissão ou tema, como é o caso da “Corrida da Polícia Militar”, “Corrida dos Médicos”, dentre outros.  

 

Na “corrida das Cores”, iniciativa beneficente promovida pelo Hospital Martagão Gesteira, que aconteceu no último dia 24 de novembro, foi montado um palco com shows. Após a corrida, os competidores puderam se divertir com música e cerveja, vendida à parte no local por vendedores ambulantes. Já a corrida do Sesc intitulada de “Circuito Sesc”, também beneficente, que aconteceu no no  dia 01 de dezembro, na Praça de Piatã, os inscritos também puderam receber massagem, fazer aulas de fit dance e alongamento. É importante dizer  que os ingressos para esta competição esgotaram em apenas três horas e as inscrições chegaram a cinco mil participantes. Não era necessário pagar, mas o inscrito deveria entregar 8kg de alimentos. Essa é uma das poucas corridas em Salvador que não possui valor monetário para realizar a inscrição. 

 

Em 2024, o valor das corridas de rua variaram entre R$60 até R$300, segundo valores divulgados nas páginas oficiais de cada competição. Porém, para além do valor da inscrição, o corredor também investe em outros aparatos que agregam conforto e que estão sendo cada vez mais aperfeiçoados, conforme a crescente demanda. “Para começar a correr, a primeira coisa que fiz foi entrar na academia para me fortalecer. No início investi em um treinador de corrida para fazer exercícios específicos de fortalecimento para corrida. Depois investi em um bom tênis, porque eu tenho uma pisada pronada e precisava de um tênis adequado. Roupa de compressão para que quando você corra ela não escorregue, relógio pra ver seu pace, óculos para o sol não te prejudicar, boné… então tem aí um grande investimento”, conta a psicoterapeuta Jussimara Alves, de 40 anos. 

 

O  crescimento do número de competições e dos competidores na cidade tem aumentado, também, a procura por assessorias de corrida. Diogo Andrade, sócio da Triação – Assessoria Esportiva, uma das primeiras assessorias de Salvador, fundada em 2004, explica a função desse serviço  para os corredores. “A nossa ideia é montar um programa de treinamento onde não existe um critério participativo. [A assessoria] é uma prescrição, uma elaboração de um planejamento de forma segura, baseada em princípios do treinamento esportivo”. Presente também em plataformas online, as assessorias podem ser contratadas pela internet, e o corredor recebe seu plano de forma remota ou presencial. Os valores para ser assessorado variam de R$40 a R$300 por mês. 

 

 A estudante Ana Leal é uma das competidoras que contratou uma assessoria para ajudá-la na preparação e no acompanhamento antes e durante a corrida. “Percebi como as pessoas que já estavam inseridas em assessorias tinham uma rede de apoio. Não só em relação a troca de conhecimento e um acompanhamento adequado com profissionais de educação física, mas também durante os treinos com pontos de hidratação nos percursos e a identificação de fazer parte daquela assessoria, o que traz maior segurança para o atleta. A assessoria promove, também, a possibilidade de conhecer novas amizades, o que acaba impactando positivamente na motivação para seguir no esporte”, conta.  

 

Ana Leal. Foto: Arquivo pessoal/Ana Leal

 

Corrida das Cores promovida pelo Hospital Martagão Gesteira. Foto: Rebeca Mascarenhas

 

Corrida das Cores promovida pelo Hospital Martagão Gesteira.  Foto: Rebeca Mascarenhas

 

Corrida Circuito Sesc. Foto: Rebeca Mascarenhas

 

Corrida Circuito Sesc. Foto: Ana Paula Vergasta

 

 

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Beatriz Castellucio é estudante do 6º semestre de Jornalismo na FACOM | UFBA. Faz estágio na TV UFBA.

 

Rebeca Mascarenhas é estudante do 6º semestre de Jornalismo na FACOM | UFBA. Pesquisa sobre a gestão de crise de imagens em startups. É iniciante na Corrida de Rua em Salvador e busca crescer no esporte. Sua paixão pela modalidade foi o motivo principal para a escolha deste tema.

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